Lula diz que Brasil quer negociar, cobra respeito às leis brasileiras e nega que críticas aos EUA tenham motivado tarifas de Trump

  • 10/07/2025
(Foto: Reprodução)
O Jornal Nacional entrevistou, nesta quinta-feira (10), o presidente Lula, sobre as tarifas anunciadas pelos Estados Unidos para produtos brasileiros de exportação. Presidente Lula fala ao Jornal Nacional sobre tarifas anunciadas por Trump O Jornal Nacional entrevistou, nesta quinta-feira (10), o presidente Lula sobre as tarifas anunciadas pelos Estados Unidos para produtos brasileiros de exportação. Ele disse à repórter Delis Ortiz que o Brasil quer negociar, mas cobrou respeito às decisões brasileiras e admitiu responder com tarifas iguais se não houver acordo. Delis Ortiz, repórter: A primeira pergunta é de ordem prática. O senhor mencionou a Lei da Reciprocidade mesmo com a ameaça explícita do presidente Trump de responder com mais tarifas a qualquer taxação decidida pelo Brasil. Como é que o governo pretende escapar desse círculo? Lula, presidente do Brasil: Primeiro é importante levar em conta que algumas coisas que um ser humano e um governo não pode admitir. É a ingerência de um país na soberania de outro. E mais grave: intromissão de um presidente de um país no Poder Judiciário do meu país. É inaceitável que o presidente Trump manda uma carta pelo site dele e começa dizendo que é preciso acabar com a caça às bruxas. Isso é inadmissível. Primeiro porque isso aqui tem justiça e a gente está fazendo um processo com direito a presunção de inocência de quem é vítima. Se quem é vítima e cometeu um erro vai ser punido. Aqui no Brasil é punido. A segunda coisa é que é inverossímil o fato pelo qual se aumentou a tarifa. O presidente Trump deve estar muito mal informado, porque nos últimos 15 anos o déficit para o Brasil é de R$ 410 bilhões entre comércio e tarifas. Portanto, não existe explicação a não ser uma falta de informação e depois tentando atrapalhar uma relação muito virtuosa que o Brasil tem com os Estados Unidos há 200 anos. O que que eu vou fazer na verdade? Primeiro eu não perco a calma e não tomo decisão com 39ºC de febre. O Brasil utilizará a Lei da Reciprocidade quando necessário e o Brasil vai tentar, junto com a OMC e outros países, fazer com que a OMC tome uma posição para saber quem é que está certo ou que está errado. A partir daí, se não houver solução, nós vamos entrar com a reciprocidade já a partir de 1º de agosto, quando ele começa a taxar o Brasil. Nós entendemos que o Brasil é um país que não tem contencioso com ninguém. Nós não queremos brigar com ninguém. Nós queremos negociar e o que nós queremos é que seja respeitada as decisões brasileiras. Portanto se ele ficar brincando de taxação vai ser infinita essa taxação. Nós vamos chegar a milhões e milhões de milhões de por cento de taxa. O que o Brasil não aceita é intromissão nas coisas do Brasil. Ele tem o direito de tomar decisão em defesa do país dele, mas com base na verdade. Se alguém orientou ele com uma mentira de que os Estados Unidos é deficitário com o país, mentiu. Porque os Estados Unidos é superavitário na relação comercial com o Brasil. Repórter: A motivação política desse ataque americano é explícita. Trump critica o julgamento de Jair Bolsonaro e ações no Supremo sobre as plataformas de redes sociais. Mas os ataques de Donald Trump começaram durante o encontro dos Brics e depois declarações suas em tom crítico aos Estados Unidos durante o evento. Que papel o senhor atribui a suas declarações nas motivações do presidente americano? Lula: Nenhuma. Veja, primeiro os Brics é um fórum que ocupa hoje metade da população mundial e quase 30% do PIB mundial. E dentro do Brics está países que participam do G20. Dez países dos Brics participa do G20, aonde o seu Trump participa. Segunda coisa: nós temos três países que foram convidados do G7 agora. Quatro países: Brasil, México, África do Sul e Índia. Quarta coisa o Brics é um agrupamento de países que trabalha em prol do sul global. Nós cansamos de ser subordinado ao norte. Nós queremos ter independência nas nossas políticas, queremos fazer comércio mais livre. E as coisas estão acontecendo de forma maravilhosa. As coisas vão continuar melhorando, e nós estamos discutindo inclusive a possibilidade de ter uma moeda própria, ou quem sabe com as moedas de cada país a gente fazer comércio sem precisar usar o dólar. Porque nós não temos a máquina de rodar dólar, só os Estados Unidos que têm. Nós não precisamos disso para fazer comércio exterior. Agora, achar que os Brics é a razão para o Trump ficou nervoso, o Brasil nunca ficou nervoso com a participação do G7, o Brasil nunca ficou nervoso com as coisas que os Estados Unidos faz. Cada país tem a soberania de fazer aquilo que quer. Então, eu penso que o presidente Trump precisa se cercar de pessoas que o informem corretamente sobre como é virtuosa a relação Brasil-Estados Unidos. Lula diz que Brasil quer negociar, cobra respeito às leis brasileiras e nega que críticas aos EUA tenham motivado tarifas de Trump Jornal Nacional/ Reprodução Repórter: O senhor criticou Donald Trump por ingerência em questões que firam a independência das instituições brasileiras. Mas o senhor recebeu críticas por visitar a ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner, condenada por corrupção, e por defender com um cartaz a liberdade dela. Como o senhor responde essas acusações de ter interferido nas questões internas de um país soberano, a Argentina? Lula: Com muita firmeza. Eu fui visitar a presidenta Cristina com autorização da Justiça argentina. Eu só fui lá porque a Justiça argentina decidiu que eu fosse visitar, atendendo um pedido da própria Cristina. Eu fui fazer uma visita humanitária, eu nunca me preocupei com que o Trump recebesse o Bolsonaro ou qualquer pessoa. É direito de cada presidente fazer o que quiser. O que não é direito é um presidente querer dar palpite na decisão de Justiça de um país. Aqui no Brasil, a nossa Justiça tem autonomia. O Poder Judiciário é um poder autônomo, como é o Legislativo. Aqui a gente obedece regras. O que o presidente Trump tem que saber é que se aqui no Brasil ele tivesse feito o que ele fez nos Estados Unidos com as eleições, ele também estaria sendo processado, estaria sendo julgado. E, se fosse culpado, ele seria preso. É assim que funciona a lei para todo mundo. Ou seja, nós precisamos aprender a respeitar. Você nunca viu me meter em uma decisão de Justiça americana. Nunca viu. E o que eu espero é reciprocidade, que ele também não se meta nos problemas brasileiros. Repórter: Esse ataque americano às exportações brasileiras levantou preocupações enormes nas empresas exportadoras. Que papel o senhor espera que esses setores empresariais desempenhem na formulação de uma resposta do governo aos Estados Unidos? Lula: Essa é importante a gente deixar claro para opinião pública que não é uma taxação ao Brasil. Ele vem taxando todos os países do mundo desde que tomou posse. É um direito dele, mas é um direito dos países reagir. Olha, o que é que eu pretendo fazer? Veja, primeiro eu pretendo reunir todos os empresários que têm exportação para os Estados Unidos, sobretudo aqueles que têm maior volume de exportação - suco de laranja, aço, a Embraer, que exporta muito pros Estados Unidos - para conversar para ver qual é a situação deles. Nós vamos tentar fazer todo o processo de negociação que for possível fazer. O Brasil gosta de negociar, o Brasil não gosta de contencioso. E depois que se esgotarem as negociações, o Brasil vai aplicar a Lei da Reciprocidade. E aí os empresários, eu espero, que estejam aliados ao governo brasileiro. Porque se existe algum empresário que acha que o governo brasileiro tem que ceder e fazer tudo que o presidente do outro país quer, sinceramente, esse cidadão não tem nenhum orgulho de ser brasileiro. Essa é a hora de a gente mostrar que o Brasil quer ser respeitado no mundo, que o Brasil é um país que não tem contencioso com nenhum país do mundo e que, portanto, a gente não aceita desaforamento contra o Brasil. Lula diz que Brasil quer negociar, cobra respeito às leis brasileiras e nega que críticas aos EUA tenham motivado tarifas de Trump Jornal Nacional/ Reprodução Repórter: O presidente Donald Trump está na Casa Branca há sete meses. Por que motivo o governo do senhor não fez nenhum movimento para estabelecer contato direto ou mais próximo com o governo do nosso segundo maior parceiro comercial? Lula: Olha, primeiro eu mandei uma carta dando os parabéns para a vitória do Trump. Eu não tenho que conversar com o Trump até agora. Eu não tenho nenhuma razão. Eu imaginei encontrar com o Trump no dia 7. Quando nós chegamos lá ele tinha saído porque a reunião foi feita em um lugar muito escondido porque o Trump não seria bem recebido no Canadá. Então, quando eu cheguei, eu e os convidados – eu e o primeiro ministro Modi, a Claudia, presidenta do México, e o Ramaphosa, presidente da África do Sul -, quando nós chegamos lá, o Trump tinha ido embora na outra noite. Na hora que houver necessidade de eu conversar com o Trump, eu não tenho nenhum problema de ligar para ele como eu já liguei para o Clinton, já liguei para o Bush, já liguei para o Obama, já liguei para o Biden. Agora eu preciso ter uma razão para ligar. Dois presidentes não ficam ligando para contar piada. Ele, por exemplo, ele poderia ter ligado para o Brasil para dizer da medida que ele vai tomar. Ele não mandou nenhuma carta. Nós não recebemos carta. Ele publicou no site dele em uma total falta de respeito, que é um comportamento dele com todo mundo. E eu não sou obrigado a aceitar esse comportamento desrespeitoso entre relações de chefe de Estado, entre relações humanas. Educação é bom e a gente gosta de receber e gosta de dar. E o Brasil quer ser bem tratado. Quando eu tiver um assunto sério para tratar com os Estados Unidos, eu não terei nenhum problema de pegar o telefone e ligar para a Casa Branca pedindo para conversar com o presidente Trump. Por enquanto, eu não tenho. Agora veja, agora é o seguinte. Nós vamos criar uma comissão de negociação juntando empresários e o governo. Vamos ver quais são as decisões, quem é afetado, como vai ser afetado, como a gente pode procurar novos mercados. E eu mesmo vou procurar novos mercados para os produtos brasileiros. Esse é o meu papel inclusive de dizer para os empresários: vamos juntos abrir novos mercados. Porque não é fácil, ele só taxar os outros. Ele também terá consequências nos Estados Unidos. Ele também terá muita consequência. Então, não é assim, Delis. A relação entre dois Estados ela tem que ser uma coisa respeitosa. Um presidente ele não é dono da verdade, um presidente não tem relação ideológica com outro. Eu nunca tive relação ideológica. Eu converso com o presidente do país seja ele quem for. Ele foi eleito pelo povo e sabe conversar, eu converso com todo mundo. Nunca, nunca tive um veto. Agora, eu não tenho nada para conversar com o Trump. Aliás, ele não dá motivo para que a gente tenha nada para conversar com ele. Depois que a gente discutir profundamente o que vai acontecer, nós temos tempo para discutir, nós temos tempo para conversar, nós temos tempo para ouvir os empresários, nós temos tempo para ouvir a OMC, para ouvir outros países como que estão acontecendo. E quando chegar o momento, se for necessário conversar, pode ficar certo que eu não terei nenhum problema em pegar o telefone e ligar. Correndo o risco de ele, de forma mal educada, de não querer me atender. Eu corri risco, mas de qualquer forma, se for necessário, eu farei isso sem nenhum problema. Por agora nada. Repórter: Por agora nada? Nem chamar a embaixadora? Lula: Não sei. Aí é um problema que o Itamaraty vai ter que tomar essas decisões. Eu acho que era importante chamar a embaixadora para tomar informações, mas é um problema que depende da decisão do Itamaraty. Eu acho que o ministro Mauro Vieira saberá cuidar disso. O que eu acho um desaforo muito grande, Delis, e não dá para aceitar, é um cidadão, presidente de um país importante como os Estados Unidos, conversar uma carta para mim, mandada pelo um site, avocando o fim da caça às bruxas a um ex-presidente que tentou dar um golpe nesse país. Ele não tentou dar um golpe. Ele tentou preparar a minha morte. A morte do presidente da Suprema Corte, que na época era o Alexandre de Moraes, a morte do vice-presidente. E não é ninguém da oposição que está falando. São os militares que estavam com ele. É o ajudante de ordem dele que recebia as informações deles. Agora, quem vai ser julgado não é o cidadão Bolsonaro. Quem vai ser julgado é os autos do processo. Se ele tiver razão, será absolvido. Se ele não tiver razão, ele será condenado. E se condenado, vai ser preso. É assim que funciona a Justiça no Brasil. E assim eu espero que funcione nos Estados Unidos. Se tivesse o Capitólio aqui e o Bolsonaro tivesse feito o que fez com o Trump nos Estados Unidos, ele também estaria sendo julgado. Porque a lei aqui no Brasil é para todos de verdade. Doa a quem doer. No dia 10 de junho, o ex-presidente Jair Bolsonaro foi interrogado no STF - Supremo Tribunal Federal e declarou não ter qualquer envolvimento com planos ilegais - inclusive a suposta tentativa de assassinato de autoridades. Bolsonaro disse que discutiu com ministros militares alternativas – que segundo ele eram constitucionais – para contestar o resultado das eleições. Afirmou que foram conversas informais e que não tratava de uma tentativa de golpe. A ação penal no Supremo ainda não tem data para conclusão. LEIA TAMBÉM Em carta dirigida a Lula, Trump ataca ações no STF sobre Bolsonaro e as gigantes das redes sociais Brasil sobretaxado: Lula diz que haverá resposta a Trump com uso da lei de reciprocidade econômica Agro e indústria dizem que sobretaxas de Trump são injustas e ameaçam empregos Quais são os 10 produtos brasileiros mais exportados para os EUA e os impactos da tarifa de 50%? Brasileiros 'invadem' perfil de Trump e dominam comentários: 'Deixe o Brasil em paz'

FONTE: https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2025/07/10/lula-diz-que-brasil-quer-negociar-cobra-respeito-as-leis-brasileiras-e-nega-que-criticas-aos-eua-tenham-motivado-tarifas-de-trump.ghtml


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