Sob protestos, nova sede do Centro POP é definida pela Prefeitura de Rio Branco; aluguel ultrapassa R$ 6 mil
20/05/2025
(Foto: Reprodução) Prefeitura publicou a contratação de aluguel de imóvel no valor de R$ 6.283,40 no Diário Oficial do Estado (DOE) nesta terça-feira (20). Mudança do Centro Pop para bairro de Rio Branco preocupa moradores
Andryo Amaral/Rede Amazônica Acre
Alvo de polêmica e protestos, a mudança de endereço do Centro de Referência Especializado para Pessoas em Situação de Rua (Centro POP) foi oficializada pela Prefeitura de Rio Branco. A gestão publicou a contratação de aluguel de imóvel no Diário Oficial do Estado (DOE) nesta terça-feira (20) para nova sede do espaço.
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O imóvel alugado vai ser destinado ao encaminhamento para Unidades de Saúde, atendimento psicossocial e direcionamento para entidades que auxiliam na recuperação do vício em álcool e drogas.
A publicação cita que o contrato terá vigência até o dia 16 de maio de 2026, contudo, não especifica o local escolhido para implementar o centro. O valor do aluguel é de R$ 6.283,40.
O secretário municipal de Assistência Social e Direitos Humanos, João Marcos de Souza da Luz, que faz a gestão do Centro Pop, assinou o contrato.
Moradores da Baixada da Sobral voltaram a protestar contra mudança do Centro POP
Os moradores da Baixada da Sobral já se manifestaram contra a instalação do espaço na região. (Veja detalhes abaixo).
Os protestos ocorrem após a Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos (Seasdh) iniciar estudos para mudar o Centro POP, que funciona no Centro, para outro endereço. Atualmente, o local atende mais de 600 pessoas em situação de rua cadastradas.
Ao g1, Francisco Panthio, que faz parte da comissão de moradores da Baixada da Sobral, afirmou que a casa escolhida fica no bairro Castelo Branco, na Rua do Bola Preta. "A gente está vendo movimentação lá na casa. Estão tirando as coisas já para a prefeitura começar a dar início à instalação", alegou.
A Seasdh afirmou que mais detalhes da mudança serão divulgados em uma coletiva de imprensa nesta quarta-feira (21).
Pathio informou que mudança já está sendo feita
Arquivo pessoal
Protestos
A primeira manifestação dos moradores da Baixada da Sobral ocorreu na última sexta (16) na ladeira do Bola Preta. Os moradores fecharam a rua e exigiram a presença de um representante da prefeitura para uma conversa.
Porém, a gestão municipal não encaminhou um representante. Na noite dessa segunda-feira (19), os moradores da região voltaram a protestar contra a mudança de endereço do Centro POP. Os manifestantes fecharam a Rua Rio de Janeiro, no bairro Mascarenhas de Moraes.
A Prefeitura de Rio Branco reafirmou que a instituição vai sair da região central, contudo, não tinha a localidade definida.
Nesta terça houve outro protesto dos moradores da Baixada da Sobral. O local escolhido foi a Câmara de Vereadores. Francisco Panthio, que faz parte da comissão de moradores, esteve presente no ato e disse que os manifestantes exigiram transparência na mudança.
Moradores fizeram ato na Câmara de Vereadores de Rio Branco, contra a mudança do Centro Pop
Arquivo pessoal
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"A gente foi provocar os vereadores para se posicionarem porque é uma decisão da prefeitura, então, tem que passar por lá", disse.
Ainda segundo o manifestante, os vereadores alegaram não terem sido consultados sobre a mudança. "Eles sequer estão sendo chamados para as atividades que culminam para isso. É uma decisão difícil, grande, que mexe com a vida de muita gente, e o que está nos chamando mais atenção é que os moradores em situação de rua, quase que 100%, são contra a transferência para cá [bairro Castelo Branco]", alegou.
O morador afirmou que a mudança pode causar grande perturbação. "Isso é um caos anunciado e não estão compreendendo isso. Não conversaram com nenhum comerciante da Sobral, com nenhuma associação de moradores, com a população diretamente. Isso é um absurdo", criticou.
O representante dos moradores assegurou que os manifestantes não irão desistir de tentar mudar a ida do Centro Pop para o bairro na região da Baixada.
"A gente vai ter que resistir porque o problema não se resolve transferindo de lugar, e sim encarar de frente. São pessoas que precisam de tratamento, de cuidado, não apenas receber uma marmita para poder trocar por R$ 3 ou R$ 5 e suprir a abstinência. A prefeitura precisa ter uma responsabilidade para tomar uma decisão complexa e grande como essa", declarou ele.
Os moradores foram recebidos pelos vereadores e o principal encaminhamento foi a marcação de uma reunião com o prefeito Tião Bocalom.
Moradores voltaram a protestar contra a mudança do Centro POP para a Baixada da Sobral
Lucas Thadeu/Rede Amazônica Acre
Mudança de endereço
A troca de endereço do Centro POP ocorre, segundo a prefeitura, porque a estrutura do prédio não consegue mais fazer os atendimentos, além das constantes reclamações de comerciantes sobre vandalismo e furtos na região.
Na época, o secretário de Assistência Social e Direitos Humanos, João Marcus Luz, afirmou que havia um estudo em andamento para avaliar para onde o espaço seria transferido. Um dos locais estudados era a região da Baixada da Sobral, o que gerou os protestos.
"O Ministério Público prefere o Castelo Branco, por conta da nossa unidade de Restaurante Popular, por conta do Hosmac [Hospital de Saúde Mental do Acre], da delegacia, da UPA [Unidade de Pronto Atendimento], ou seja são unidades que tem tudo a ver com a população em situação de rua", comentou o secretário.
Pessoas em situação de rua
De acordo com uma pesquisa do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua, o número de pessoas vivendo em situação de rua em todo o Brasil aumentou cerca de 25%.
Ainda de acordo com o observatório, com base em dados de 2012 a 2021, na capital acreana existem 28 pessoas em situação de rua por 100 mil habitantes. Dessa população, a maioria está na faixa etária dos 30 aos 60 anos.
O professor de sociologia, Nilson Euclides da Silva, expõe que esse é um fenômeno que toda sociedade vive.
"Todo o processo de urbanização desde o século passado, por razões que vão do vício, desemprego, até a falta de oportunidade. Então toda a sociedade principalmente nas áreas urbanas, sempre geraram digamos, esses indivíduos", esclareceu ele.
O estudo do observatório também classifica que de sete em cada dez pessoas em situação de rua no país não terminaram o ensino fundamental e 11% se encontram em condição de analfabetismo. Nilson questiona até quando a essas pessoas existirão na nossa sociedade.
"Qual é o objetivo dessa sociedade incluir? A civilização serve pra isso: incluir indivíduos nos grupos diversos dentro de um sistema produtivo. Sistema produtivo esse que possa levar qualidade de vida, uma maior igualdade social e econômica e nós estamos exatamente fazendo o inverso", lamentou o professor.
VÍDEOS: g1
